Quando eu soube, através do meu próprio capitão, de que daquele dia em diante eu seria o novo capitão do Deviace, uma mistura de estranhas sensações me dominou. Acredito que naquele momento foi o momento em que eu tenha me aproximado mais do sentimento de felicidade mesclada com medo. Contudo, eu jamais, em meu projeto de vida, sonhei em enfrentar tantos desafios como os que eu enfrento atualmente.
Já escrevi em outra ocasião, a alfinetada que foi a missão em Kunlun e o que ela trouxe de ruim e de bom. Eu ainda acho muito difícil lhe dar com os sentimentos, por isso preciso sempre estar transcrevendo as situações da maneira que eu as vejo, para depois, quando eu voltar a lê-las, não me surpreender e tentar observar como alguém que observa de fora, que não participa.
Fato é que, John Lucky, o meu navegador, veio me contar pouco tempo atrás, que havia inscrito os Corsários de Aegir para uma espécie de Sociedade, o Conselho Illuminati, se eu não me engano. Bom, até aí tudo bem. Afinal, se o John, que é um rapaz estranho e introspectivo, tomou uma atitude dessas, devia ser porque visava alguma vantagem para nós. Errado.
Fiquei sabendo quase que no mesmo instante, que esse conselho servia a um bem muito grande; tão grande que perto dele, os Corsários de Aegir e seus propósitos como um clã descompromissado perante as façanhas do continente, se tornava meros ratinhos, experimentos vivos e descartáveis para esse bem maior. Eu fiquei tão chocado que minha primeira reação foi esbofetear o arruaceiro na cara com toda a força que eu consegui reunir na minha mão. Mas já era tarde. Já fazíamos parte da Organização Illuminati oficialmente. Por mais que John estivesse bem intencionado, a minha situação, a situação que eu comandava e ainda comando dentro dos Corsários de Aegir é demasiada fraca para ter sido aceita em um evento dessa magnitude.
Logo na manhã seguinte, eu e Pupa, que havíamos marcado de nos encontrar na porta do Castelo de Prontera na noite anterior, fomos procurar pelo tal recrutador que nos auxiliaria a cumprirmos a nossa mais nova tarefa dentro deste conselho fantasmagórico. Nós iríamos nos inscrever para acessar os lugares inimagináveis e atemporais, os quais eu só ouvira falar em rápidas conversas, sem muito enfoque: Ash Vacuum.
Durante toda aquela manhã, ficamos uma boa parte do tempo viajando por praticamente todo o mundo, buscando diplomatas, congregados, recrutadores e oficiais responsáveis pela expedição rumo ao desconhecido. Confesso que achei intrigante e envolvente as histórias que eu escutei da boca de muitos. Era realmente um encontro com o desconhecido. Ash Vacuum, pelo que parece, esconde muitos segredos e mistérios que atiçam a curiosidade e outras coisas mais do homem. Curiosidade essa, que o Conselho Illuminati vai tentar matar, se agregando a expedição àquelas terras estranhas.
Riqueza? Poder? Fama? Não sei qual desses elementos tentadores movem mais a atenção do nosso mundo em relação à Ash Vacuum. Só sei que, não vou e não preciso, de forma alguma, arriscar a perder tudo o que eu construí, batendo de frente ou abandonando o barco que John apresentou diante de mim. Quem sabe eu até não consiga, nessa outra dimensão, uma recompensa pelos meus esforços maior do que geléias em comporta?
Estamos na chuva é para nos molhar, como dizem por aqui. Bom, eu odeio chuva, mas se for necessário, eu tomo banho nela, nu. Talvez esse seja o maior desafio que eu venha a enfrentar na minha vida de capitão e como um ser humano. No futuro, quem sabe, eu agradeça John pelo que ele fez. Bom, não agora, depois de eu e Pupa sermos massacrados pelos guardas da fenda dimensional e recuarmos, esperando outra oportunidade para conhecer o que nos espera.